m.d.

A minha infância foi boa, ao mesmo tempo foi um pouco ruim, por causa que eu perdi umas pessoa que era muito chegada da minha família, na minha vida, que eu amo.

Que foi o meu primo e meu tio. Só que uns tempo foi se passando, aí eu vim parar dentro da cadeia, por causa que tava andando com os garoto errado. Esses garoto errado me chamaram pra ir roubar. Aí, eu indo roubar, fui se envolvendo com garoto errado. Depois desse dia, que meu primo morreu, minha cabeça foi virando. De uma hora pra outra minha cabeça já não era a de antigamente, que tinha mente de codorna, que não pensava em fazer besteira, só pensava em brincar e soltar pipa. 

Na minha infância eu vim a passar muita necessidade, que foi quando o meu pai se separou da minha mãe. Que minha mãe foi pra criar cinco filho, foi muito duro, que ela tava desempregada. 

Meu pai é usuário de droga, ele usa cocaína, maconha, crack, todo tipo de droga. E ele bebe muita cachaça. 

Isso foi o motivo que a minha mãe se separou do meu pai, quando eu tinha 9 anos de idade. Aí a minha mãe se separou dele, ele ficou um tempão sem dar notícia. E minha mãe ficou lutando pra criar nós sozinha.

Eu já comi angu, angu com feijão, já comi café com farinha, que era pra encher. 

A minha infância foi muito duro, muito difícil. Mas graças a deus a minha mãe arrumou o meu padrasto, que é pedreiro e foi lutando pra dar o melhor pra nós, pra botar o que comer dentro de casa. E nessa, ele botando tudo dentro de casa, eu considero ele como se fosse meu pai, que foi ele que me criou. Ele já tá 10 anos com a minha mãe, vai fazer 10 anos com a minha mãe. 

E essa minha infância foi muito duro, que tu ficar longe do teu pai, mesmo que ele não vale nada, mas tu ficar longe dele é muito ruim, sem notícias. 

Teve uma época que falaram que ele tinha morrido nós choramo, choramo. Mas ele não tinha morrido, ele tinha apanhado e tinha sumido e depois ele apareceu com o braço quebrado, o dedo quebrado. E meu pai, ele não tem jeito, ele gosta dessa vida. Já tentamos tirar ele dessa já, tentamos botar ele numa clínica. A casa dele lá na favela parece até uma Cracolândia, fica cheio de gente usando droga, todo tipo de droga. Minha mãe não vai lá, nem pintado de ouro, não gosta dele nem por nada. Nós fala o nome dele, minha mãe já começa a falar com nós alto, que nós não tem pai. 

 

E foi difícil, mas deu pra levar, graças ao meu padrasto. 

Eu sou muito grato a ele por tudo que ele fez comigo e com minha família, criou os meus irmãos, hoje meu irmão, minha irmã, tá tudo grande graças a deus e a ele.

Vários garoto que não tem nem mãe e nem pai e fica aqui dentro, não chora, não liga pra nada. 

Não quer saber de nada, não tem uma família. E eu acho, eu dou graças a deus, eu tenho pelo menos a minha mãe do meu lado, meu padrasto que considero como meu pai, porque ele me criou e os meus irmão que já é tudo grande. Eu tô feliz, quando eu sair daqui eu quero dar o melhor pra minha família. 

Depois da morte do meu primo, falei com a minha mãe que eu queria morar com meu tio. 

Meu tio tava me chamando pra ir pra lá. Nessa que eu fui, fiquei um tempo, tive meu filho lá. Eu tava fazendo um curso de solda pra trabalhar no estaleiro. Cara, como é o nome? Tava fazendo o curso na FAETEC pra mim trabalhar no estaleiro. 

 

E nessa eu tive uma desavença com meu tio, meu tio me agrediu e eu não gostei, peguei e sai de lá nervoso. 

Peguei o ônibus de noite e vim pro Rio. E chegando aqui no Rio eu não queria ir pra casa da minha mãe, por causa que se eu fosse lá, na casa da minha mãe, eu não estava me sentindo bem, por causa que lá era miliciano. E lá a milícia tava  solta lá.  Qualquer coisinha os milicianos tava matando. E eu com medo  deles querer me matar, eu não fui pra casa da minha mãe. Encontrei uns colega lá da favela. Nessa que eu conheci uns garoto, eu fiquei uma semana andando com eles. Nessa que eu fiquei andando com eles, comecei a conhecer vários garoto lá e esse garoto que eu conheci me chamou para ir roubar. Nessa que eu fui roubar com ele, ele e mais dois garoto, os policia abordou o carro e me levou preso. 

Chegamo dentro do DPO da polícia, começaram a bater. 

Eu tava com duas bermudas, eles tiraram a bermuda e colocaram na minha cara e começaram a me dar soco, chute, soco, chute. E eu algemado batendo com a cabeça na parede. Aí fiquei um dia e meio lá no porquinho da delegacia. Os policial me encaminhou lá pro CTR na Ilha do Governador. Nessa que eu fui pra  Ilha do Governador, fiquei lá uma semana. Depois fui encaminhado pro Padre Severino, chegando lá, eu fiquei um mês, tive audiência, nessa audiência eu ganhei foi internação. Internação de seis a um ano.

 

Retrato Falado · M.D. 04

Tá preso é um... eu não vou falar que é bom, porque não é bom. 

Tu fica longe da tua família, mas faz tu refletir aquelas coisa que tu fez lá fora, pra você não vim a fazer de novo, que você sabe as consequências aqui dentro de uma cadeia. Dentro de uma cadeia você não tem conforto nenhum. Aqui você não tem caráter, você é aqui um, vamo botar aí, um zé ninguém. Que aqui você não tem identidade. Aqui você não tem nada.

Aqui é como se fosse lá fora, por causa que lá fora você também tem regras e tem ordem. 

Aqui tem regras e ordem pra tudo.  Aqui, se tu deixar na reta, na reta é você passar por cima da ordem deles. Aqui eles trabalham mais com um castigo e sem pertence. Pertence é coisa de visita que entra pra tu, é biscoito, refrigerante. E o diretor, quando tu chega aqui no DEGASE, o diretor, ele te explica como é, fala o que tu pode falar, fala o que tu não pode falar. E assim, se você deixa na reta tem um castigo, que é lá na triagem. 

Na triagem é o castigo mesmo, 

que não pode ficar televisão, não pode ficar rádio, dominó. Lá é o castigo, tu só fica lá pra tu refletir naquela besteira que você fez, de passar por cima da ordem do funcionário. Depois que acaba o teu castigo, tu volta ao normal.  Mas se tu deixar na reta de novo...deixar na reta é tu debater com funcionário, querer cantar de galo com funcionário, querer falar mais alto que o funcionário.

Nessa internação de seis a um ano eu vim pra cá. 

Chegando aqui eu fiquei mais tranquilo, minha mãe começou a me visitar de novo, ficou vindo me visitar. Quando não vem ela, vem a minha irmã. E agora eu tô mais feliz ainda, que eu vou ser tio, que a minha irmã tá grávida. E eu fiquei também mais feliz foi quando o meu filho nasceu.

Eu conheci uma garota na igreja, eu conheci ela, fiquei caminhando com ela na igreja depois nós saimos da igreja, tivemos um namoro, e esse namoro geriu o meu segundo filho.  

E eu tava tão feliz que não passava nada pela minha cabeça, só passava em trabalhar, ganhar um dinheiro e comprar as coisa para ele. Dá para ele do bom e do melhor, tudo que eu não tive, eu queria dar para ele. E quando eu vim para o Rio eu já tava pensando nesse roubo que eu fiz, eu tava pensando em pegar o dinheiro, ajuntar, mandar para minha mãe e pedir para minha mãe mandar pelo Sedex. Para minha mãe mandar, só que  nos meus plano deu tudo errado, eu fui roubar, acabei sendo preso e parando aqui, e já tô sete meses sem ver ele. Sete meses sem ver meu filho, eu convivi com ele, ele acabado de nascer.  Mas depois eu fiquei na vida errada não vi mais ele, só minha mãe que tava vendo ele. Minha mãe me trás notícia do meu filho, conta como que tá lá fora, que lá fora tá perigoso, pra mim tomar jeito, pra mim sair daqui procurar um trabalho, que agora eu tenho os herdeiro da família pra mim amostrar caráter pra eles, como é que eu vou contar uma infância minha sendo que eu só passei minha infância preso? Eu tenho que contar uma infância pra ele boa.

A sensação de ser pai é muito bom, que tu tendo um filho te traz, te deixa mais calmo, 

te deixa mais seguro de tu pensar duas vezes antes de fazer uma besteira. Tu já vai  pensar no teu filho, que ele não pediu pra vir no mundo, tu que namorou lá pra ter ele. Quando eu sair daqui agora eu só vou pensar em dar do bom e do melhor pra ele e dar o máximo de amor pra ele, ficar perto dele.

Se apaixonar ao mesmo tempo é bom e ao mesmo tempo é ruim, por causa que tu sofre quando ela não quer mais nada contigo.

Ó, só falta tu querer se matar. Eu vim me apaixonar por uma garota, mas por uma garota que foi da igreja. Eu gostava dela, não sei, foi do nada. Eu gosto dela até hoje, eu não consigo tirar ela da minha cabeça. Ela tinha 19 anos. Agora ela deve ter 20 anos. 

Que eu namorando com ela, nós demo um tempo, que eu tava, eu fiquei na vida errada, sai da igreja, fiquei andando com os garoto errado lá. Aí nós nos separamo. Eu ligava pra ela toda hora, todo dia. E no dia que ela falou que tava namorando com um garoto lá, pô, só faltou eu se matar. 

Eu chorei para caraca, falando que eu gostava dela, que amava ela. Ih, foi muito estranho. Nunca tinha sentido isso na minha vida.

Eu gostava mais de dá uma namorada e saía fora, dá uma namorada e saía fora. Nunca gostei de ficar com uma garota só, gostava de namorar e saía fora. No dia que eu me apaixonei foi bom, mas ao menos tempo foi ruim, que eu sofri pra caraca. 

autorretratos