c.s.

Eu tenho 16 anos, moro com a minha mãe e moro com meus irmão. É oito irmão, contando comigo. 

Fui vivendo em casa até os 10 anos de idade. Quando foi os meus 10 anos eu saí pra rua, comecei a roubar, usar várias droga. Tipo, eu tava em casa, convivi com a minha família até os meu 10 anos de idade. Quando eu fiz 10 anos, eu já não estudava. Parei de ir pra escola, como, fui pra praia. Conheci más amizade, que usava droga. Os moleque ficava usando tinner, roubando lá no centro da cidade. Aí eu comecei a usar também, fui na influência, quando eu fui ver eu me viciei, foi uma droga puxando a outra. Aí comecei a roubar, é, ficar enfurnado dentro da favela, ali na cracolândia. Só queria saber de como, roubar. Roubar, meter a mão nas coisa dos outro e fiquei nessa vida aí até 2015. Aí eu fui preso, aí decidi agora o que eu quero pra minha vida, que eu quero mudar, não quero mais isso pra mim, que não tá me levando a lugar nenhum. Não quero mais não como, eu fiquei usando droga desde os meu 10 ano. Só fui parar com 15, já tô fazendo 16, praticamente 6 anos usando droga. Maconha, loló, pó, crack. Aí agora que eu tomei um jeito mesmo, uma decisão pra minha vida, porque como, isso atrapalhou muito na minha vida, na minha saúde, no meu futuro. Se eu não tivesse ido pra praia, usando droga, não tivesse roubando, eu não estaria preso, não tinha passagem.

Eu não conheci meu pai não, porque a minha mãe tava com ele, teve eu e se separou. Ele foi e me abandonou, aí minha mãe que me cuidou até os meus 10 anos.

Quando eu tava com os meus 10 anos eu fui roubar, fui preso, fui pra abrigo, aí eu pulei o abrigo e continuei roubando, roubando. Fiz 12 anos, fui preso pro CTR, continuei, saí, continuei roubando, usando droga. Aí usei crack, maconha, loló, aí não conseguia sair dessa vida. Aí eu como, eu vi que eu tava me destruindo, tava fazendo eu ficar sem voltar pra casa. Ficar usando várias droga, ficar só no meio da favela enfurnado, não queria saber de nada. Só queria saber de roubar e usar droga. Aí eu vi que não tava me levando a lugar nenhum, parei pra pensar, aí eu fui preso. Aí eu sai e como, vi que eu não...não ia valer a pena ficar usando droga de novo. Aí eu fiquei mais tranquilo, fiquei tranquilo, arrumei uma novinha, fiquei como, namorando. Fiquei suave, parei de ir pra favela, fiquei só por lá onde eu moro mesmo, fiquei sem fazer merda. Fiquei sem ficar roubando, dei um tempo de usar droga. E fiquei tranquilo, aí fui roubar agora de novo, fui e rodei, aí tô preso até hoje. Mas saindo daqui já vou mudar de vida, vou como, se alistar no exército, no quartel, vou ficar tranquilo. Vou seguir minha carreira, seguir um futuro. Não quero viver nessa vida de ilusão não, porque usar crack é maior ilusão, só te enfurnece, de querer roubar, de ficar ali na favela enfurnado. Só pensa em usar droga, andar com mal companhia, só tem gente que não presta, então eu não quero mais não como, quero ficar tranquilo mesmo, com a minha família, dá mais valor pra minha mãe.

Que a minha mãe que me dá valor, me visita, nunca me abandonou. 

Eu saindo daqui, eu vou dar mais oportunidade pra ela de como, de fazer ela feliz. Minha mãe sempre me aconselhou a não fazer besteira, não roubar, não mexer em nada de ninguém, não usar droga, mas eu não dava ouvido, virava as costa. Aí, tô aí agora, pagando pelo que eu fiz. Tipo assim, eu sou um menor tranquilo, gosto de jogar bola às vezes. Às vezes gosto de soltar pipa, fumar um baseado, como, tomar um banho de praia, eu sou tranquilo. Eu sou bom com quem é bom comigo, mas que eu vejo que a pessoa pratica o mal pra mim, eu vou fazer mal a pessoa também. Eu pago com a mesma moeda, sou bom com quem é bom comigo, quem é bom com as pessoa.

Minha mãe acordava nós de manhãzinha pra ir pra escola, eu, minha irmã e meu irmão. Aí nós ia pra escola. Depois que nós voltava da escola nós jantava em casa, fazia um lanche. Aí ficava lá na rua brincando, jogando bola, às vezes  jogava bolinha de gude. Aí foi essa minha infância aí. Jogava peão. 

Mas a minha era mais soltar pipa mesmo. Que eu soltava pipa. Tava soltando pipa e foi, como, me cortou, cheio de linha. Aí eu, como, tava de bicicleta, a bicicleta tava do meu lado, eu peguei a bicicleta, mandei os menor enrolar minha lata de linha e fui atrás. Eu desbarrei na calçada, cai, ralei o joelho por causa da pipa de papel e vareta. Ah, mas mesmo assim, eu caí de bicicleta mas eu consegui pegar a pipa. Aí a pipa caiu em cima da árvore de pé de amêndoa. Aí a linha tava assim ó, cruzada no fio assim, eu fui e taquei marimba e peguei. Mas nesse dia eu fiquei com o joelho todo ralado, mas valeu a pena.

Ah, também eu ia com meu irmão, eu e meu irmão jogava fliper direto. Às vezes a gente jogava fliper valendo bolinha de gude, valendo uma lata de linha. Eu já joguei valendo dinheiro também, cinco, dez  reais. Era maneiro, às vezes eu perdia, às vezes eu ganhava. E o meu irmão era um pouquinho mais velho do que eu, eu tinha catorze e ele tinha dezesseis. Era maneiro essa época. Aí como, ele me ganhava, eu ganhava ele, era dia de luta, era dia de glória. Tipo ele me ganhava, às vezes eu perdia também. Mas era maneiro, era só pra nós se divertir mesmo.

Minha mãe é gente boa pra caramba, sempre me aconselhou a fazer as coisas certa, nunca me aconselhou a fazer coisa errada, mas só que eu não respeitava e sempre fazia coisa errada. 

Ela mandava eu ir para escola, eu não ia. Mandava eu parar de mexer nas coisa dos outro, eu não parava. Mandava eu ficar em casa, eu não ficava. Eu só queria saber era de ir pra rua, jogar bola, fumar maconha. Aí minha mãe, como, eu em casa, minha mãe ficava, como, quando eu tava deitado, minha mãe ficava me dando carinho, fazendo cafuné na minha cabeça, me dando vários conselho, mas eu nunca parei pra escutar. Tô aqui ó, pagando pelo que eu fiz. Mas é, minha mãe sempre foi gente boa, sempre foi boa comigo. E até hoje, por mais que eu tenho a décima passagem, minha mãe nunca me abandonou, minha mãe sempre tá aí, me visitando, por mais que ela vem me visitar uma vez por mês. Mas ela vem, ela não esquece de mim não. A minha mãe sempre me dá conselho até hoje.

Tô nessa vida aí roubando. Tô aqui hoje porque eu pratiquei um ato infracional. 

Mas eu fui roubar mesmo porque eu gostava de usar maconha, gostava de usar droga, gostava de adrenalina, gostava de curtir baile, pegar várias mulher. Tô nessa vida por causa disso aí mesmo, por isso que eu gosto de roubar. Tô aí, minha décima passagem, já roubei pra caramba, já passei vários reflexo. Mas não tomei vergonha, não tomei jeito até hoje, mas como, tô um ano preso. É minha primeira internação, tô pensando na minha vida mais um pouco. O que eu vou fazer lá fora quando eu sair, se eu vou me alistar, se vou ficar tranquilo, se eu vou trabalhar, ou se eu volto pra vida. Mas eu acho que eu vou ficar como, tranquilo quando eu sair daqui, não vou voltar pra vida não. Eu não quero mais continuar nessa vida não, que eu quase morri já na mão dos cana. Já passei muita adrenalina, muito reflexo já. Tô cansado dessa vida já.

Aí, é a sensação de tá preso é que é ruim, porque tu tá preso, você não pode fazer o que tu quer. Não tem a liberdade, não tem o livre arbítrio de tu fazer o que você quiser.  

Porque tu não pode dar uma namorada, porque não tem mulher. Tu não pode ir ali na rua porque, tu tá dentro de uma cela, dentro de uma cadeia. Tu não pode ir ali fumar um cigarro, porque não tá com dinheiro, tu tá preso, não tem essa autorização, não tem essa ordem. É muito ruim, não pode ir à praia, porque tá privado, tá preso dentro de alojamento. Vários funcionário como, fica te observando, não tem nem como fugir. Se tivesse como fugir vários menor infrator ia fugir, eu ia ser um deles.

O que eu tenho medo mesmo é só, medo da judiaria. 

Tipo, alguém fazer covardia  comigo, me ajunta, tá ligado? Tipo eu tô ali sozinho, aí o menor discute comigo, eu vou brigar com o menor, aí vem outro para defender ele, vem com arma, vem assim, querer se ajuntar para me pegar, para me bater. Tenho só medo disso mesmo, da judiaria. Medo da morte, deu tá roubando, vir os cana, sem querer me acertar um tiro, ser atropelado.

Uma vez, quando eu tava correndo dos cana, que eu tava na boca ali, os cana veio atrás de mim, eu pulei a casa do morador assim, para se esconder com as árvore. Aí eu fui pular o muro, aí o muro caiu junto comigo. Tinha um vergalhão, entrou dentro da minha perna assim, aí eu tomei quinze pontos, por dentro e por fora. Tava carne viva, o osso dava pra aparecer de tão fundo que tava o buraco na perna. Aí ficou essa cicatriz grandona.

Nunca me apaixonei não, mas gosto dela, mas nunca me apaixonei não.

Eu ia pra praia, eu e as garota lá,  uns menor lá perto de casa. Nós ia pra praia fumava baseado, comprava  lanche, nós comia. Aí como, nós ia pra praia de manhã, voltava pra casa de noite. Aí nós ia pra casa de algumas garota, dava uma namorada com as garota, fumava baseado, fazia um lanche. Aí essa daí foi a parte melhor que eu gostei. Também soltava pipa, no dia seguinte. Gostava de jogar um futebol. Ah, eu ia pra praia. Nesse dia que eu fui pra praia, eu conheci a garota, e a garota como, nós tava fumando um baseado na praia e eu desenrolei com ela. Aí eu fiquei como, saindo com ela, eu fiquei namorando com ela alguns meses, depois como, fiquei  suave. Aí eu fui roubar de novo, fui preso. Aí a mina não queria mais nada comigo e deixei ela pra lá e como, segui meu rumo, parti pra outra. Mas esse foi o dia como, que eu gostei. A mina era maneira, era tranquila, gostava de mim, eu também fiquei gostando dela. Eu fiquei ficando com ela por um tempo.

Eu só penso em ir embora mesmo, só penso na minha liberdade. 

Tem um ano que eu tô preso, vou fazer um ano preso. Só penso em ir embora mesmo, ver a minha família, meus primo, meus irmão todo. Ver minha mãe mais, ver minha mãe todo dia, ver como ela tá, se preocupar mais com ela dentro de casa. Que ela só vem me ver uma vez por mês, não dá nem para conversar muito direito, só penso na minha liberdade.

autorretratos