a.a.

Minha infância foi normal, como de toda criança, foi normal. Eu gostava muito de jogar bola, eu ficava só na rua, soltando pipa e jogando bola.

Eu fui criada por minha mãe e meu pai, mas eu ficava mais na casa da minha avó. Quando eu fiz 13 anos minha avó morreu. E eu era muito apegada com ela, sendo que eu nem me envolvia com esses negócio de fazer merda assim. Depois que ela morreu eu comecei a me envolver e não parei mais.

Eu morava com a minha avó e com meus pais, tipo assim, meus pais morava perto, mas eu ficava mais na casa dela.

Eu lembro que ela tratava nós muito bem, sei lá, com muito carinho. Ah, minha mãe tratava também, mas sei lá, eu era mais apegada a minha avó. Eu era mais apegada a ela.

A minha avó morreu de câncer, ela tava internada no hospital e eu tava na casa de uma colega, tipo, saí da escola e fui dormir lá na casa de uma colega. Aí de manhã cedinho minha irmã me ligou, ela não sabe dá notícia de nada, ela já saiu falando: “ó, vem pra casa que minha avó morreu”. Eu falei: “o que?” Ai ela: “vem para casa que minha avó morreu”. Eu desliguei o telefone, mas eu não fiquei acreditando muito não. Aí já cheguei lá e tava geral se arrumando pra ir pro enterro, eu me arrumei e fui também.

Tipo, que eu não demonstro muito meu sentimento não, tá ligado? Sei lá, é estranho, eu sinto, mas eu não demonstro não.

Tipo, eu chorei muito, mas só que depois. Os outro olhando assim fala: “ah, passou, foi coisa de momento”. Mas não passou não, sinto falta dela até hoje. Quando minha vó morreu ia completar já 14 anos, eu tava com 13, mas já ia fazer 14 e eu tenho 16 agora. Depois que ela morreu eu comecei a fazer essas coisas assim, aí fui conhecendo outras pessoa. Eu comecei a roubar depois que ela morreu. Depois que ela morreu, sei lá, me deu uma revolta, aí eu comecei a fazer merda.

Não gosto de ficar demonstrando um sentimento por ninguém não, porque se você demonstrar muito a pessoa vai querer montar em cima de você. Aqui você tem que, sei lá, tem que mostrar o lado ruim, parece. Porque, tipo, se você ficar muito quieto a pessoa quer montar em cima de você aqui. Então você tem que mostrar o lado ruim que você é. 

Com a minha mãe eu sou normal. Minha mãe me trata com muito carinho, mas eu não consigo demonstrar o mesmo carinho por ela, eu não consigo demonstrar por ninguém. Mas eu tenho sentimento, só que não consigo demonstrar. Só, às vezes, pela minha namorada. Sei lá, acho que é meu jeito, eu sou assim, sei lá.

A minha avó me tratava com carinho. Só às vezes que eu conseguia demonstrar carinho por ela.

Eu me considero um homem, tipo assim, pra mim eu me sinto um homem. Porque eu fico só com mulher.

Quando eu comecei a perceber que tinha uma coisa assim diferente em mim, eu tinha uns 12 anos, porque eu sempre gostei muito de fazer coisa masculina, sempre gostei. Aí quando eu fui ficando um pouquinho maior, eu fui vendo que era assim o certo, tá ligado? Eu fui vendo o que era o certo, aí eu peguei e virei sapatão.

Minha mãe não gostava assim muito não, mas depois de um tempinho ela aceitou.  Com minha avó era normal, minha avó não via nada de mais não. Meus irmão também. Eles aceitava também.

A primeira vez que eu me apaixonei foi por uma amiga minha, mas só que eu não mostrava pra ela não, porque, sei lá, era estranho. Eu tinha 12, por aí, mas eu não demonstrava pra ela não, mas depois que eu me revelei nem falava muito mais com ela. Aí eu já comecei namorar com outra menina.

Minha namorada de verdade está lá fora. Ela vai até vir hoje me visitar. Mas eu tenho uma namorada aqui dentro também, eu acho que ela vai embora hoje, hoje é a audiência dela.

Ela é da provisória e eu sou da internação, mas só que às vezes nós consegue namorar. Tipo, lá na galeria tem várias celas, um lado é a provisória e o outro lado é a internação.  Mas dá pra conversar, dá pra ver, dá pra fazer um monte de coisa. Aí, tipo, nós fica, nós conversa, troca carta, nós troca muita carta.

Ah, eu digo um monte de coisa, falo um bando de coisa pra ela. Mas ultimamente eu tô falando só pra ela não me esquecer, por causa de que ela vai embora. Mas se ela ganhar internação ela vai ficar aqui. Quero que ela vá embora, mas ao mesmo tempo vou sentir falta dela. Nós se parece, não é “aquele” amor, mas parece que nós se acostuma com a pessoa. Aqui dentro não é “aquele” amor, é porque você se apega com a pessoa, sei lá, se acostuma.

Minha namorada lá de fora, aquela lá eu amo, posso falar que eu amo ela. Toda terça-feira ela vem aqui.

 

Ah, as cena alegre que eu já vivi...

toda vez que eu vou embora daqui minha família tá lá fora me esperando. Aí quando eles me vê, eles fica feliz. Meu pai, minha mãe, meus irmão, às vezes minhas tia também. Ficar aqui é ruim. Tem gente até que gosta, mas eu não gosto não. Tem gente aí que tem 24 passagem.

Quando eu sair daqui eu vou ficar tranquilo, as técnicas me botou no jovem aprendiz, vou começar acho que mês que vem ou esse mês ainda, não sei.

Ah, roubar pra mim, sei lá, é adrenalina.

Também o dinheiro, essas coisas assim. É tipo um desafio, que você vai chegar na pessoa, você vai tomar o bagulho da pessoa e você não sabe qual vai ser a reação dela.

Nós rouba muito gringo lá em Copacabana, é, muito gringo. Têm alguns que reage, aí quando eles reage nós ginga pra eles, tipo, fala e fingi que nós vai bater neles. Aí eles fica com medo, já deixa nós levar e vai andando tranquilo, parece até que ninguém roubou eles.

Tenho uma cicatriz aqui no rosto, tipo um corte, foi uma mordida de cachorro. Quando era menorzinho eu peguei o celular da minha mãe, eu tinha a mania de tudo que eu via eu tinha que tirar foto. Aí o cachorro do meu irmão tava preso na corrente, ele não morde, mas se irritar ele, aí ele morde. Aí, tipo, que eu agarrei ele assim e fui tirar foto junto com ele, aí o flash do telefone assustou ele, ele já pegou e mordeu a minha cara. Fez um corte aqui assim, não tomei ponto não, não precisei tomar ponto não.

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